Diário de Clarinha (parte 2 - a visão da mãe)

No filme “As invasões bárbaras” muitas cenas me emocionam pela identicação com meu pai, seu final de vida e nossa incrível ligação, mas uma cena em especial me emociona mais: é quando a filha em depoimento, via Internet, diz para o pai que está prestes a morrer: “o primeiro amor de uma menina, é sempre o pai”.
É vendo o Beto com a Clara, que começo a perceber como se dá a dinâmica dessa relação, pai-filha. É totalmente justificável o enaltecimento da importância da relação mãe-filho por motivos óbvios (gestação, dedicação 100% do tempo, ligação que transcende às palavras, a solicitação permanente), mas penso cada vez mais: pai é tão fundamental quanto.
Se inconscientemente Clara levará consigo ao longo da vida o quanto foi amada por mim desde o ventre, os cuidados que dedico a ela, o quanto e como a amo, enfim, tudo o que envolve nossa relação, certamente, em tudo na sua vida refletirá o olhar terno do pai para ela ao pegá-la no colo, o aconchego de seu peito nas tentativas de fazê-la dormir, a firmeza de seu toque, e até, por vezes, a quebra que promove em nossa simbiótica relação, tirando um pouco o foco da Clara de mim, despertando-a para o que está além de nós.
Ontem conversávamos sobre o desejo de não repetirmos com ela os erros de nossos pais e sobre o quanto pretendemos estar presentes em todos os momentos de sua vida e uma coisa é certa: não acertaremos em tudo, mas teremos feito o nosso melhor, porque aprendemos com nossa própria história: mãe e pai são fundamentais. Cada um de seu jeito, cada um em sua medida, cada uma a seu modo e quando ela estiver maior e fizerem aquela velha pergunta: “de quem você gosta mais, da mamãe ou do papai?”, sei que a inevitável resposta virá: “dos dois!”. Sei também que será sincera de sua parte, pois imagino que serei amada por ela tanto o quanto a amo, mas não me surpreenderei se seu olhar revelar uma certa brejeirice ao olhar para o pai neste momento, porque vou me lembrar que não tem jeito: o primeiro amor de uma menina é mesmo o pai.
Juli Mariano (a mãe)