Marinheiros de primeira viagem (continuação)

Chegamos da maternidade. Enfim sós. Nós três. Primeiro dia em casa, tomou banho na maternidade, bem, deixa pra amanhã.
Dia seguinte fomos tentar dar o primeiro banho na pequena. Um desastre. Outro dia, minha mãe vem nos visitar, comento o ocorrido, ela enche o peito do orgulho "vovó sabe tudo", arregaça as mangas e declara: "deixa que eu dou o banho nela". E assim foi por uma semana e eu, ali, ao lado, com cara de pastel-incopetente, no máximo servindo pra entregar-lhe o sabonete, a toalha e sonhando com o dia, quem sabe, por volta dos 6 anos, quando enfim chegaria a minha vez de dar o banho na minha filhinha. Até que um dia recebo no meio da tarde o telefonema tão esperado: "filha, olha, desculpa, mas hoje não deu pra ir dar o banho na Clara..." e eu contendo a felicidade: "tudo bem, mãe, pode deixar". Finalmente havia chegado a minha vez. Acontece que já estava quase anoitecendo e foi um daqueles dias que dá até a impressão de que a gente tem inverno no Rio. Fazia um frio danado.
Me enchi de coragem (morrendo de medo por dentro), arrumei tudo no quarto pra ficar bem quentinho e decretei: "amor, vou dar o banho da Clara". Bem, se eu estava nervosa, papai Beto ficou mil vezes mais, por já ter presenciado minha falta de jeito. Então eu prepava as coisas, Clara chorava e ele entrava e saia do quarto resmungando, até que num determinado momento não se conteve e soltou o bronca: "acho um absurdo você dar banho nela com este frio". Pronto, foi o que bastou pra minha insegurança transbordar e aí chorávamos eu e a Clara, mas continuei lá, firme em meu propósito. Tenso, percebendo meu desespero e diante de uma Clara que não parava de berrar, ele voltou ao quarto, olhando fixamente pra pequena disparou-lhe a bronca: "e você, pode parar de chorar. Tá pensando o quê? os bebês na Rússia também tomam banho, sabia?".
Explodi em uma gargalhada e enfim relaxamos com o banho. Eu, ele e nossa pequena Clarinha.